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Picuí promove evento pioneiro sobre transfeminismo durante a Campanha Agosto Lilás

Publicado em 11/08/2023 às 10:02

O município de Picuí, por meio da Coordenadoria de Políticas Públicas para Mulheres, seguindo a programação da Campanha Agosto Lilás, promoveu na quinta, 10 de agosto, o Seminário Regional “Agosto Lilás: transfeminismo e militância pela vida de mulheres CIS e TRANS”. O evento fez parte das atividades desenvolvidas pela gestão municipal através da adesão ao Selo Social Prefeitura Parceira das Mulheres – Ano da Diversidade Sexual e de Gênero, e contemplou os servidores municipais picuienses que atuam nas secretarias de Assistência Social; Saúde; Educação, Cultura e Desporto; e Agricultura, Turismo e Meio Ambiente.
 
O seminário também contou com a presença de profissionais dos municípios de Frei Martinho, Baraúna, Pedra Lavrada, Sossego, Cubati, São Vicente do Seridó e Umbuzeiro, além de vários profissionais de outros municípios paraibanos e potiguares, que assistiram a transmissão através do canal de YouTube da Secretaria de Assistência Social de Picuí.  



Durante as saudações iniciais, o prefeito de Picuí, Olivânio Remígio, fez as seguintes ponderações: “Nós tratamos desse assunto não é para convencer as pessoas, é porque nós não podemos trazer para o serviço público os nossos dogmas do dia-a-dia ou tratar a família com o conceito patriarcal de homem ou mulher e tirar de cena os outros modelos de família que existem. E quando falamos de ‘cis’ e ‘trans’, esses são temas que o nosso público precisa pautar, porque são pessoas que estão sendo assassinadas, que estão tendo os seus direitos negados”. Em seguida, o prefeito convidou os servidores presentes para uma nova postura: “enquanto serviço público, precisamos nos despir dos nossos dogmas, dos nossos conceitos pré-estabelecidos e preconceitos, e termos essa visão de diversidade, porque senão, nós iremos reforçar os preconceitos e a discriminação, além de estimularmos a homofobia”. Olivânio concluiu a sua fala dizendo que “nós precisamos ter a diversidade e ver a diversidade! Dorival Caymmi escreveu, em tempos idos, uma música para Gabriela – talvez ele nem tenha escrito para Gabriela, mas ele disse que ‘eu nasci assim, eu cresci assim, eu sou mesmo assim’. E isso nos traz a compreensão macro de que a pessoa é o que ela quiser ser”, finalizou o prefeito de Picuí.
 
Dando início à mesa de debates, a assistente social e atual coordenadora do Programa “Paraíba que Acolhe”, Jéssica Juliana Batista da Silva, tratou sobre o tema “Agosto Lilás e a violência contra mulheres CIS e Trans na Paraíba”. Durante a sua fala, Jéssica destacou que “o lugar de onde falo hoje é esse lugar da academia, é o lugar da militância dentro da academia também, porque é importante saber quem são os sujeitos, sujeitas e sujeites que compõem essa ‘sopa de letrinhas’ que muitos falam, mas essa sopa de letrinhas é formada por gente, por pessoas que têm sexo, que têm sexualidade, que se reconhecem dentro de um gênero e, para nós, enquanto profissionais, precisamos saber todos esses termos, porque são as pessoas que nós atendemos e se nós não atendemos, precisamos refletir por que elas não estão chegando aos nossos serviços”. Ao falar sobre a dificuldade de pautar esses temas, Jéssica ressaltou “é muito importante o que estamos fazendo aqui; o município de Picuí vem, peita o tema e, ainda por cima, traz outros municípios nesse encontro regional”, pontuou a convidada.
 
Bia Crispim de Almeida, mestra e doutoranda em Literatura Comparada na área das Poéticas da Modernidade, transfeminista e feminista vinculada a grupos potiguares de ativismo pró-LGBTIA+ no Rio Grande do Norte, deu prosseguimento ao seminário, trazendo o tema “Mulheres trans: o acesso à política pública de Educação e a militância transfeminista”. Bia iniciou a sua fala com uma constatação preocupante: “O dossiê da Antra fala de assassinatos e esse documento existe porque não existe esse levantamento no setor público, quem faz esse registro é a sociedade civil. Nós sabemos que o Brasil, pela 14ª vez seguida é o pais que mais mata pessoas LGBT, sobretudo mulheres trans – pretas e periféricas -, porque existe alguém que conta; e as pessoas que contam somos nós, que somos alvo; somos nós, as pessoas trans, somos nós, as travestis quem estamos contando os corpos que caem, porque, para a sociedade, nós não existimos”.
 
Em relação às pautas morais, Bia Crispim questionou: “ Moralidade não significa que uma pessoa não possa viver a sua sexualidade de forma plena. Que moral é essa que permite que seja roubado de um cidadão, de uma cidadã, 40 anos da sua vida? A expectativa de vida de uma pessoa trans no Brasil é de 35 anos, enquanto a expectativa de vida da população, de uma forma geral, é de 75 anos. Ou seja: com que direito se rouba 40 anos de vida? Com que direito se rouba o direito de alguém ter a sua fé? Porque parece que uma travesti não pode entrar numa igreja; ela não pode crer, não pode louvar, ela não pode se sentir filha de Deus? Onde está escrito isso? Quem disse que eu sou filha de alguma outra coisa diferente de você que crê, que reza e que vai para a igreja, e depois fica me condenando? A questão é: tem moral nisso? Tem. A moral da história é que você está sendo hipócrita”, afirmou a professora da rede pública potiguar.
 
Fechando a mesa do seminário, Thabatta Pimenta Medeiros da Silva – única vereadora trans do Nordeste brasileiro – trouxe o tema: “Violência contra mulheres e política: conservadorismo e o preconceito velado nos espaços de representação popular”. Em sua fala, a transexual carnaubense destacou que “tudo o que as meninas falaram antes vem no ponto que nós, pessoas trans, nós mulheres em si, chegamos na política para fazermos; porque diante de tudo que elas falaram, nós temos a oportunidade de chegar e dizer ‘a gente precisa disso’, mas aí é tá o babado maior, é chegar nesses espaços de poder, nesses espaços de decisão e ver de perto o que é a transfobia estrutural nos espaços de decisão, porque eu represento a mulheralidade em si, são todos os recortes das mulheres e de todas as pessoas neste lugar. Eu represento os espaços e as pessoas que se dizem minorias – mas que na realidade, nós somos a maioria -, e o que queremos é que as políticas públicas aconteçam de verdade, trazendo para o debate a realidade de nós pessoas trans e travestis”, pontuou Thabatta Pimenta.
 

No decorrer de cada fala, a plateia teve a oportunidade de fazer perguntas e questionar as conferencistas, enriquecendo ainda mais o evento. Adriana Lucena, coordenadora de Políticas Públicas para Mulheres de Picuí, falou da importância do seminário: “Vivemos neste dia um momento ímpar, não só para Picuí mas para as regiões do Seridó e Curimataú da Paraíba, bem como para todos aqueles municípios que estiveram conosco, seja presencialmente, seja de forma remota. Saímos daqui com vários questionamentos e com a certeza de que o dia de hoje foi um divisor de águas para a questão da diversidade em nossos equipamentos públicos municipais”.



Assista o seminário na íntegra, através do link no final da matéria.



 

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